Uma homenagem por dedicação ao meio ambiente no segmento jornalístico. Esse foi o convite que recebi do gabinete do Vereador Paulo Oya, por intermédio de seu assessor, Denis, alguém que podíamos sempre contar na época em que atuei no Instituto Jequitibá.
Na hora fiquei surpresa. Conversei bastante com o Denis e fiquei refletindo. Pensei a princípio que um prêmio, ou uma homenagem é sempre decorrente de uma solução. Um Case resolvido. Cruzar a reta de chegada em tempo menor que o adversário, a melhor coreografia, a conquista de algo, a solução de um caso.
Nesse sentido, receber um prêmio por minha atuação ambiental parecia injusto. Eu pensava: o quê de fato mudou em decorrência do que minhas mãos escreveram, do que minha boca proferiu, minha máquina registrou? Imediatamente “as luzes” se apagaram e uma espécie de retrospectiva começou a rodar na minha mente.
O interesse pelas causas ambientais vinha desde a faculdade, aulas do Professor Pedro, tudo muito solto ainda dentro de mim. Parecia que havia algo pronto, edificado, onde eu entraria e conseguiria somar resultados contra a degradação ambiental.
Recém formada fui trabalhar num jornal Valinhense chamado Gazeta Metropolitana. Lá começava um contato direto com as causas ambientais. Problemas que pediam soluções. Além de todas as demandas rotineiras de uma redação, as questões “verdes” eram sempre pautadas e cada pauta renderia um livro ou livreto no mínimo.
Discussões sobre o destino dos lixos das cidades da nossa região, hoje destinados ao aterro de Paulínia. De quebra, as questões sobre o lixo reciclado, tão debatidas, mas fatalmente pouco aplicadas, sendo a nossa, uma das regiões de maior consumo de produtos geradores de resíduos reutilizáveis.
Depois do jornal, o Instituto Jequitibá me proporcionou mais experiências.
De tudo que vi e vivi, o que posso garantir é que, diferente de uma competição esportiva por exemplo, onde para um ganhar, o outro tem sempre que perder, nas questões ambientais, os danos são coletivos. Pode demorar um pouco mais, um pouco menos, mas todo mundo sentirá. Não há como degradar um trecho de uma bacia hidrográfica e achar que a cidade vizinha não irá sofrer com isso. Portando, é melhor começarmos a compartilhar vitórias.
Como? Isso foi algo que perguntei e me pergunto todo santo dia, e na verdade, é preciso em primeiro lugar de paciência e em segundo, de atitude consciente para construir algo novo. Todo mundo sabe que reformar dá mesmo mais trabalho que construir e a reforma no caso da humanidade, é menos física do que comportamental. Reciclar a mentalidade, a cultura, os hábitos e os interesses. O resto é conseqüência.
Em alguns casos, a contaminação, além do estrago ambiental afeta diretamente um grupo de pessoas. No Simpósio de Trabalhadores contaminados por substâncias químicas, realizado na cidade de Santos, no ano de 2005, nossos colegas do Sindicato dos Químicos de Campinas levaram o caso da Shell Basf, de Paulínia, onde o Rasteiro, representante do grupo, colocou a sua realidade de contaminado. No seu caso, a barriga tão dispensada pela maioria dos homens, é justamente o que o protege do contato das substâncias tóxicas com a corrente sanguínea. Conheci pessoas que vieram da Bahia na ocasião, representando os contaminados por Amianto. Em 2005 o Brasil era um dos únicos países a produzir telhas de amianto ainda. Essa substância, quando inalada causa asbestose, um enrijecimento pulmonar que leva a morte. Uma das vítimas do “Césio 137” também estava lá. Lembrei de ter visto na minha infância a matéria informando da contaminação de uma família toda que havia entrado em contato com uma substância radioativa de um equipamento descartado de maneira irregular. E haviam muitos outros casos. A dentista que perdeu o marido em três dias vitimado por uma leucemia que só acontece em caso de contaminação química. A Petrobrás havia dado a causa mortis como natural. Era uma guerreira. Lutando contra o quê? Talvez contra a ausência de responsabilidade, de consciência de uma cultura altruísta, de valorização do ser humano.
Realidades diferentes para relatar histórias com conseqüências semelhantes e tratamento também. A justiça: lenta, muito lenta e a mercê de interesses econômicos, claro. Sabemos que é assim.
Bem pertinho de nós, em Santo Antonio de Posse, o caso do Aterro Mantovani, com 320 mil toneladas de substâncias químicas a céu aberto interagindo há 30 anos. As empresas que lançaram o lixo? Discutem o pagamento proporcional à quantidade despejada ou tentam transferir a responsabilidade para seus clientes. Enquanto isso, as famílias que vivem do trato da terra aguardam solução, com seus poços d’água lacrados e o futuro incerto.
Como jornalista, posso dizer que é preciso compartilhar essas informações, acreditem vocês, pouquíssimo divulgadas na imprensa convencional, e torcer para que de alguma forma, essa exposição acelere o resultado das soluções.
Mas, como cidadã e ser humano, não posso acreditar que esse seja um tema de atuação individual. A parábola da floresta incendiada, onde um beija-flor transportava água em seu biquinho para ajudar no combate ao fogo é um princípio fundamental para mudar o cenário atual de degradação. Cada um sentindo essa imensa extensão de 510 milhões de quilômetros quadrados como seu grande quintal. Mas não podemos nos iludir. O poder público e a sociedade civil precisam caminhar juntos. Nesse “jogo”, ninguém ganha sozinho. Sem pensar em culpados, em erros. A condição do planeta hoje pede que sejamos agentes de solução. Dando as mãos e olhando pra frente. O ritmo de degradação é infinitamente maior do que a nossa capacidade de reação e contenção do estrago.
Por isso, nesse momento, faço um convite e um pedido a todos aqui presentes. Gostaria de dividir essa homenagem com cada um de vocês, sabendo que à sua maneira cada um irá se mobilizar. Pode ser um começo tímido, recolhendo o lixo que não é seu da calçada. Pode ser falando para o vizinho não lavar a calçada toda semana. E quem sabe, participar num segundo momento da coleta seletiva do seu bairro e do replantio das árvores derrubadas do seu entorno. E esse prêmio, ou homenagem, será cada vez mais nosso, de cada um que entender mais sobre o nosso quintal azul, e aderir a essa proposta. Até que finalmente, seja tão natural começar tudo do ponto de vista da sustentabilidade, como é prover o pão nas mesas de café. Fazemos sem pensar. Que essa homenagem seja assim de todos nós. Hoje, a manhã e sempre.
Alexandra Dias - 27 de maio de 2008
Na hora fiquei surpresa. Conversei bastante com o Denis e fiquei refletindo. Pensei a princípio que um prêmio, ou uma homenagem é sempre decorrente de uma solução. Um Case resolvido. Cruzar a reta de chegada em tempo menor que o adversário, a melhor coreografia, a conquista de algo, a solução de um caso.
Nesse sentido, receber um prêmio por minha atuação ambiental parecia injusto. Eu pensava: o quê de fato mudou em decorrência do que minhas mãos escreveram, do que minha boca proferiu, minha máquina registrou? Imediatamente “as luzes” se apagaram e uma espécie de retrospectiva começou a rodar na minha mente.
O interesse pelas causas ambientais vinha desde a faculdade, aulas do Professor Pedro, tudo muito solto ainda dentro de mim. Parecia que havia algo pronto, edificado, onde eu entraria e conseguiria somar resultados contra a degradação ambiental.
Recém formada fui trabalhar num jornal Valinhense chamado Gazeta Metropolitana. Lá começava um contato direto com as causas ambientais. Problemas que pediam soluções. Além de todas as demandas rotineiras de uma redação, as questões “verdes” eram sempre pautadas e cada pauta renderia um livro ou livreto no mínimo.
Discussões sobre o destino dos lixos das cidades da nossa região, hoje destinados ao aterro de Paulínia. De quebra, as questões sobre o lixo reciclado, tão debatidas, mas fatalmente pouco aplicadas, sendo a nossa, uma das regiões de maior consumo de produtos geradores de resíduos reutilizáveis.
Depois do jornal, o Instituto Jequitibá me proporcionou mais experiências.
De tudo que vi e vivi, o que posso garantir é que, diferente de uma competição esportiva por exemplo, onde para um ganhar, o outro tem sempre que perder, nas questões ambientais, os danos são coletivos. Pode demorar um pouco mais, um pouco menos, mas todo mundo sentirá. Não há como degradar um trecho de uma bacia hidrográfica e achar que a cidade vizinha não irá sofrer com isso. Portando, é melhor começarmos a compartilhar vitórias.
Como? Isso foi algo que perguntei e me pergunto todo santo dia, e na verdade, é preciso em primeiro lugar de paciência e em segundo, de atitude consciente para construir algo novo. Todo mundo sabe que reformar dá mesmo mais trabalho que construir e a reforma no caso da humanidade, é menos física do que comportamental. Reciclar a mentalidade, a cultura, os hábitos e os interesses. O resto é conseqüência.
Em alguns casos, a contaminação, além do estrago ambiental afeta diretamente um grupo de pessoas. No Simpósio de Trabalhadores contaminados por substâncias químicas, realizado na cidade de Santos, no ano de 2005, nossos colegas do Sindicato dos Químicos de Campinas levaram o caso da Shell Basf, de Paulínia, onde o Rasteiro, representante do grupo, colocou a sua realidade de contaminado. No seu caso, a barriga tão dispensada pela maioria dos homens, é justamente o que o protege do contato das substâncias tóxicas com a corrente sanguínea. Conheci pessoas que vieram da Bahia na ocasião, representando os contaminados por Amianto. Em 2005 o Brasil era um dos únicos países a produzir telhas de amianto ainda. Essa substância, quando inalada causa asbestose, um enrijecimento pulmonar que leva a morte. Uma das vítimas do “Césio 137” também estava lá. Lembrei de ter visto na minha infância a matéria informando da contaminação de uma família toda que havia entrado em contato com uma substância radioativa de um equipamento descartado de maneira irregular. E haviam muitos outros casos. A dentista que perdeu o marido em três dias vitimado por uma leucemia que só acontece em caso de contaminação química. A Petrobrás havia dado a causa mortis como natural. Era uma guerreira. Lutando contra o quê? Talvez contra a ausência de responsabilidade, de consciência de uma cultura altruísta, de valorização do ser humano.
Realidades diferentes para relatar histórias com conseqüências semelhantes e tratamento também. A justiça: lenta, muito lenta e a mercê de interesses econômicos, claro. Sabemos que é assim.
Bem pertinho de nós, em Santo Antonio de Posse, o caso do Aterro Mantovani, com 320 mil toneladas de substâncias químicas a céu aberto interagindo há 30 anos. As empresas que lançaram o lixo? Discutem o pagamento proporcional à quantidade despejada ou tentam transferir a responsabilidade para seus clientes. Enquanto isso, as famílias que vivem do trato da terra aguardam solução, com seus poços d’água lacrados e o futuro incerto.
Como jornalista, posso dizer que é preciso compartilhar essas informações, acreditem vocês, pouquíssimo divulgadas na imprensa convencional, e torcer para que de alguma forma, essa exposição acelere o resultado das soluções.
Mas, como cidadã e ser humano, não posso acreditar que esse seja um tema de atuação individual. A parábola da floresta incendiada, onde um beija-flor transportava água em seu biquinho para ajudar no combate ao fogo é um princípio fundamental para mudar o cenário atual de degradação. Cada um sentindo essa imensa extensão de 510 milhões de quilômetros quadrados como seu grande quintal. Mas não podemos nos iludir. O poder público e a sociedade civil precisam caminhar juntos. Nesse “jogo”, ninguém ganha sozinho. Sem pensar em culpados, em erros. A condição do planeta hoje pede que sejamos agentes de solução. Dando as mãos e olhando pra frente. O ritmo de degradação é infinitamente maior do que a nossa capacidade de reação e contenção do estrago.
Por isso, nesse momento, faço um convite e um pedido a todos aqui presentes. Gostaria de dividir essa homenagem com cada um de vocês, sabendo que à sua maneira cada um irá se mobilizar. Pode ser um começo tímido, recolhendo o lixo que não é seu da calçada. Pode ser falando para o vizinho não lavar a calçada toda semana. E quem sabe, participar num segundo momento da coleta seletiva do seu bairro e do replantio das árvores derrubadas do seu entorno. E esse prêmio, ou homenagem, será cada vez mais nosso, de cada um que entender mais sobre o nosso quintal azul, e aderir a essa proposta. Até que finalmente, seja tão natural começar tudo do ponto de vista da sustentabilidade, como é prover o pão nas mesas de café. Fazemos sem pensar. Que essa homenagem seja assim de todos nós. Hoje, a manhã e sempre.
Alexandra Dias - 27 de maio de 2008
Comentários
Detalhes que não podem ser despercebidos:
- Para onde sua mãe está olhando?
- O que o Lê está pensando?
Hahahahahahahahaha...
Bjossssssss...
Sabe que 11 em 10 pessoas me perguntam isso???? Minha mãe está olhando para ..... a luz!!!! rrrrsss Beijos Carol!