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Pequi. Ou seria um ouriço? Os Deuses gostam de espinho.




Tão comum na Planalto Central, região de cerrado, seu nome significa “fruta dos deuses” . Por todo lado existe algo de pequi. Isso, eu até sabia. Já havia sido alertada por especialistas.
Lá na Vila Industrial, em Campinas, onde fica a editora que eu trabalhava tem a pastelaria do Japa, em frente ao mercadinho da Vila e eles servem pimenta com pequi. Desde a primeira vez fiquei apaixonada pelo sabor. Tem mais hot e mais suave.
Mas até aí, era ele lá e eu aqui. Separados por um vidro com liquido dentro.
Meus colegas especializados na frutinha porém, me perguntaram se eu conhecia pequi. Eu disse que sim, sem prever o que estaria por vir e ainda reafirmei que na pimenta era uma delícia, o trem.
Calda Novas.
Na viagem de ida para Brasília paramos em Caldas Novas. O paraíso de crianças e pessoas da melhor idade.
Desde que engravidei sempre quis levar o Dimi lá. Nem sei porque, mas tenho essa idéia fixa. Em Fernando de Noronha também.






Entramos para conhecer um clube de águas naturais. Era dia, um calor de 30 graus na sombra e mergulhei a mão na piscina. Tomei um baque! Nem por deizão pularia naquela imensidão azul! Me sentiria a galinha carijó ali. Era um pulo e eclampsia, pressão alta, menopausa precoce, sei lá!
No frio deve ser delicioso, mas ali, com o Deus Hélio de cara limpa era difícil sentir prazer.
Seguimos para o almoço.
Comidinha caseira, o pessoal chama a gente na porta do restaurante. Turista disputado a grito ou a convite mesmo.
Entramos e pedimos um omeletão. "Nossa especialidade."
De longe estava lá. A travessa de barro com arroz e pequi.
UUU. Finalmente, ele e eu frente a frente.
Direto da Vila Industrial, para Goiás.
Todo amarelinho, bacana, cheiroso. Eu, como apreciadora de coisas exótica, de origem não animal, fui logo me servindo.
Primeiro foi o Xandão. Ele fazia umas caras estranhas e nhoc, nhoc, nhoc.
Olhou discretamente para mim e disse: troço horrível, é fibroso pra chuchú.
Uma pequena reflexão. Fibroso é aquilo “Que contém fibras, semelhante a fibras” e não espinhoso!
Ninguém aparece na propaganda de café da manhã comprando espinhos para funcionar o intestino!!!
Mas, teimosa que sou, não me amedontrei pelo alerta tosco do Xandão e com a arcada munida de um espírito desbravador, NHAC, Nhac, nhec, nhic, nhai, nhui, íííííí. Mordi o pequi.
Eu que sequer pisei em ouriços, soube, de pronto, como seria lambê-los.
Eram mais ou menos vinte, vinte e poucos. Um, ainda está aqui, na minha gengiva, irônico enquanto escrevo.
Diante de uma sucessão de devaneios de uma comissária de bordo de formação, que pensa nas probabilidades do perigo, comecei a imaginar se o troço migrasse para meu intestino, estômago, ou sei lá, se alojasse no meu apêndice. Corri para o banheiro e comecei a puxar aqueles que eu conseguia sentir facilmente. Encontrei um senhorzinho no caminho do banheiro, com grossas lentes bifocais que deixavam os olhos dele pequenininhos e perguntei: O Sr. sabe se esses espinhos do pequi saem sozinhos da boca da gente?
E ele, com olhos arregalados sem pele de pálpebra a cubri-los dessa vez, respondeu: Nossa! Você mordeu???? Eu não como por isso mesmo.
Ferrou! Ou melhor, ferroou!
E então, seguimos por mais cinco horas de viagem, eu com vinte e poucos e o Xande com cinco novos elementos bucais.
Meu sonho naquele momento: uma pinça. Uma pinça me faria feliz!
E fez!

Comentários

Anônimo disse…
Infelizmente mordi um pequi ontem e só fui encontrar sua postagem hoje :-).

Nossa... que sensação ruim, me senti muito idiota com a boca cheia de espinhos.

Também fiquei com medo de haver complicações, aí apareceram várias pessoas da familia dizendo que já tinham passado pelo mesmo problema.

Mas o jantar pra mim acabou, só tive paz quando cheguei em casa e minha esposa removeu os espinhos com a pinça.

Pequi, nunca mais

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Status

Parte de mim é amor e a outra é ilusão. O exercício de viver é alargar as margens da primeira até que a outra simplesmente vire a uma. Tem dias que somos mais a primeira, tem dias que estamos na fronteira. Tem dias que somos pura beira. Não cobro e não ligo, olho pro lado e digo: nem vem, que eu sei voltar pra lá. É uma maré que sobe e desce, movida pelos sentimentos que são movidos pelos pensamentos. Já fui tsunami, já fui lagoa, fá fui até sertão, mas eu sei, é tudo condição. É passageiro. Eu sou passageiro, e também o mar, e também o chão. Ah essa Tao evolução, que cresce dentro da desconstrução. Esse tudo que busca se preencher de nada. Essa divisão que nos insiste, condição de alma triste, de um ego que se alimenta e se maquia de presente. E a união ali latente, aguarda soberana o fundir do último átomo, o ruir da última ilusão. Metade de mim é vida, a outra metade é desconstrução. 

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