Queria ter trombado o Drumond no mercado, na padaria, no balcão, para que de sobressalto, em alguma piadinha interna pudesse notar seu brilho.
Ou queria ser a menina do xérox que poderia ter convivido de leve, mas periodicamente com seu universo, que na verdade virou seu legado e nosso patrimônio.
Poetas. Inconformados a jogar poética na lama e na compostagem.
Acho que todo poeta é um incomodado que não consegue calar.
Se o mundo fosse um bocado melhor, um bocado mais justo, penso que os poetas seriam pessoas comuns a sorrir, passear e se divertir.
Acho que seriam pintores ou escultores a imprimir a poética nas formas e cores.
O poeta se incomoda com a mania dos burocratas de sujar o rosa de seus mundos. Isso mata o poeta e ao mesmo tempo o fortalece. Um poema, nada mais é do que um desejo afoito de harmonia plena.
O que é afinal um amor não correspondido senão um caos energético daquele que ama sozinho?
Miséria, injustiça, perjúrio são estímulos poéticos para um justo nesse mundo de regras escusas.
Queria conhecer o poeta. Nem sei se ele sorria, ou guardava a genialidade só para a poesia.
Mas, a inquietude de alma não correspondida pode calar o poeta ao mundo.
Porque sem a esperança, o penoso enterra a graça na areia e na poeira. E aí é a morte do poeta. Que é também um grande equilibrista e olha para baixo e vê, de um lado o mundo vestido de certo e do outro o mesmo mundo fétido.
E não ouse o poeta cair para um ou para outro.
O meio é sua única saída para continuar poeta.
Ele vê a coisa toda certa, mas abre os olhos e sabe que aquela acertude não é a certa e continua lembrando aos homens que não é, mas que talvez conserta.
Eu queria ter conhecido o poeta.
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