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Nunca fui amada

Cheguei a essa conclusão

Me tornei tão hábil em compreender o momento do outro que, nos meus relacionamentos,  deixava que as pessoas se achegassem e se achegassem e eu, como a água, aderia.

Em momento algum eu deixava de ser eu. Minha consciência estava presente a todo momento, em todas as concessões e desenvolvi a habilidade de fazê-las espontaneamente.  Porque é assim que sei ser. 

De tal forma que eu, um dia, me tornava invisível. E me tornando, partia em busca de minha forma original que nunca era a mesma de antes. 

E daí, somente aí a outra parte do que nos tornávamos sentia a minha falta como a de um braço, uma perna, um dedo. 

Até parece que é amor, mas nunca foi. Talvez um tipo de dependência da minha presença materna, feminina, protetora e de certa forma alegre. 

Talvez por isso nunca me senti bela. Na minha consciência, se eu o fosse, talvez me amassem assim, de qualquer jeito, apenas por eu exisitr. Mas não, não sou esse tipo de pessoa.  Ninguém jamais me ofereceu o convite de uma vida, o presente de um nome.  Não com coerência de intenções, atos e palavras.  

Sempre fui uma espécie de arquétipo de "Ser Feminino" e isso sim exerce atração sobre os homens, mas ainda não é amor. É alvo, meta, algo bom de se ver e tocar. E até de compartilhar momentos. Mas é um ideal. Ainda não é amor. 

Não é amar o meu torto, o meu vazio, o meu arroto. 

Nunca fui amada. 

Poderia ao menos ter nascido sem a capacidade de me doar, de querer gerar, de querer dividir. Poderia ter nascido um pouco mais resumida talvez. Viciada em trabalho,  em poder, em status. Mas nada disso é meu. Não sou poderosa. Sou eu.

Posso me arrepender, mas nesse momento, é assim que me sinto. 

Sei também que vai passar, mas, agora, à sombra da luz da minha consciência mais íntima, me permito não gostar de ter sido dotada de gerar, mas sem terreno fértil para a semadura.  

Sei que não aparento, mas já tive medos e também sonhos. Sei que a minha dor não é maior do que a de muitos, mas sei que desejei superar cada ferida minha. Mas as tive e sabe Deus se não as terei novamente. A consciência me faz optar em não alimentá-las. Assim que nascem, entendo que, como um sinal, devo achar a cura e sempre achei. 

Nunca fui compreendida. Ninguém me poupou dos dissabores da vida, porque não enchergaram minhas ex-feridas. Só viram meus sorrisos. Foi o que mostrei. 

Nunca fui amada e nesta noite de sono acharei a cura para isso também. Se amar foi minha missão e não a de ser amada, venho cumprindo bem . 

Ressentimento? Não sei. Acho que a verdade é sempre, sempre a melhor companheira. Tenho me treinado para não mentir nem para mim, nem para os outros. Mesmo quando me saboto e compro 20 vinte DVD's sem ter tempo para assisti-los. Me condeno e me deleito no minuto seguinte. 

Mas não minto. 

Nunca fui amada. E o que isso quer dizer? 

Não sei. Acho que nunca me revelei. 

Nunca me permiti. Nunca soube.

E talvez não tenha amor para gente assim. 

Falei de uma faceta do amor. Falei do homem e da mulher. 

Falei de mim. 

Mas de meio em meio, vou me inteirando das minhas ilusões. Meios amores necessários  enquanto dure e até se revelarem paralelos. 

Eu acho que nesta terra ainda não está na moda o simples. O raso, o previsível. Mas é assim que sei ser. 

Declaração de fracasso e ressentimento? Pode ser, mas pode ser também um sopro de lucidez. 

Vou ficar com as duas hipóteses, porque negar, pode ser mentir. Vou deixar que o tempo diga, ou calado assista  essa porção de mim. 

Nunca fui. E daí? 



Comentários

Emilly disse…
Buscando no Google histórias de mulheres que nunca foram amadas encontrei esse lindo texto. A busca por textos assim pode não fazer sentido mas eu queria me sentir menos sozinha nessa dor de nunca ter sido amada, desejada, incluída em planos de vida.
Anônimo disse…
Vc um dia foi assim.
Hoje já não o é.
A Alexandra que bateu à minha porta certo dia, vai ser muito amada.
Amada pela simples beleza de ser a beleza que é.
Uma porção de sensibilidade angelical com toda a feminilidade
de uma Deusa dançarina!
Quanta mulheridade!
Quanta sinceridade!
Numa simplicidade apaixonante e fácil de amar.
Natalia Miguel disse…
muito maneiro e corajoso.

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