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Saudades


Sinto saudades concretas
Plausíveis
Justificáveis
Aprendi a conviver com ela como uma doença crônica
Anônima
Se deixasse as lágrimas correrem todas as vezes que meu coração pede, me julgariam doida
Os homens principalmente
Que não entendem muito de gente
Logo eu, que me sinto tão feliz
Que recebo tanto do lilás das flores, do tirlitirtir dos pássaros, do cheiro da terra molhada
Como ouso sentir saudades?
Que não é o mesmo circuito que percorre a tristeza, mas tem uma via expressa depois da curva
Sinto saudades do meu filho
Sinto saudades das músicas dos anos oitenta
Sinto saudade de me entregar à dança a ponto de repetir o ano escolar
Hoje, isso não me preenche mais
Não me entrego assim a nada
O que bom. Chega de repetir o ano.
Hoje sou um ser coletivo
Meus pequenos prazeres me fortalecem e me abastecem para os afazeres diários
Mas penso por dois ou três
Não sou individual
Não penso mais como uma
Onde será que perdi meu indivíduo?

Sinto saudades do meu filho
Como se meus dedos estivessem em outro estado
E a qualquer momento pudesse voltar a tê-los
E sem eles, permaneço limitada parte do tempo
Parte da vida
Vida em partes
Mas sinto também saudades que não explico
Não são palpáveis
Não são visíveis
Mas completamente compreensíveis por mim
Saudades do que me aguarda
Do abraço amigo
Da beleza supra carnal
Do objetivo comum e universal
Onde cerveja e maconha sequer fazem sentido
Onde crime não existe no destino
Onde a paz é o grande barato
E existir, só por existir é fantástico
Sinto saudade de dormir e acordar cheirosa
De não usar maquiagem, mas jamais me julgar pálida
Sinto saudades da felicidade coletiva
Que hoje trago em pó num saquinho, para durar a vida toda e não me deixar esquecer do caminho
Mas é pouquinho
Porque devo deixar em cada canto triste e vazio
E por todo lado há necessidade
E ele só faz despertar
Dura pouco e desaparece
Sinto saudade de não precisar disso
De olhar ao redor e ver tudo bem
Sinto ansiedade
Quero trazer isso tudo para cá
Mas não depende de mim
Tantos tentaram
E não conseguiram
E a maioria já se esqueceu
Se perdeu de si mesmo
Em busca do outro
No outro
Como quem morre de sede
Diante da foz
E mais distante fica
Dessa terra em questão
Desse lugar
Desse mundo
Tão próximo e tão distante
Chamado interior
Sinto saudades
Sinto falta do que há de vir
Sinto saudades
Sinto ousadia
Saudade é meta da utopia
Do querer incerto de concretizar um dia
um encontro, uma história, uma regalia
Saudades nesse dia 

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