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Quem roubou a lente da verdade?


Ontem, numa sessão solene na Câmara dos Deputados foram devolvidos, simbolicamente, o mandato de 173 deputados cassados na época da ditadura. 28 estão vivos e alguns puderam receber pessoalmente como Plínio de Arruda Sampaio, aliás, homenageado por quase todos os líderes que tiveram a palavra. O cara é mesmo uma lenda. Uma "autarquia". Do tipo de gente, que não sai quieto da vida de quem o ouve. Faz um barulhão e enche nosso peito de esperança de que outras mentes se abasteçam de clareza e raciocínio coerente de quem sempre priorizou o coletivo.
O ato, mesmo simbólico, significa muito. Inegavelmente. Um tapa de pelica na intransigência histórica. Foi emocionante, foi real. Um fio de linha desse novelo cheio de nós. Enquanto isso, do outro lado da rua, no Palácio do Planalto, outro socialista era homenageado. Oscar Niemeyer despedia-se da sua criatura. Ou, ela é quem se despedia dele por meio das pessoas que se enamoram de sua invenção todos os dias, com o privilégio de ter o céu como moldura.
Ouvindo os depoimentos na sessão, me voltou à tona a reflexão de que o terror vivido “naqueles dias”, o qual nunca vou sentir na pele, mas imagino vagamente, ouvindo de algumas pessoas que sentiram, tinha cor, farda, penteado, discurso fechado. O verde se fazia medo. O descabelado, cabeludo era açoitado. O reco encurralava no beco. 
Mas, e hoje?
Hoje, os lados se globalizaram. A Terra oval ficou mais redonda. A lógica perdeu a racionalidade ou a emoção se vestiu de razão.
Ideologia ousada é desejar que a Ponte seja campeã do Brasileirão. Projeto político é articulação de caixa dois. Partido, é o nome que se dá a uma temporada da vida de alguns políticos.
Se a unidade é meta universal, bem maior espiritual, a pseudo dualidade é um mal existencial. Da forma como é “vendida” é hipócrita.
O poder econômico, os financiamentos ilícitos, a troca de favores, o tráfico de influência, assumiram uma farda “invisível” e tão truculenta quanto a de antes. Mas é diluída. É um veneno concentrado, misturado em toneladas de solvente, que pinga sem parar, intoxicando lentamente. Não adianta tentar entender pelo discurso, pela roupa ou pelo penteado. O PT usa Armani e tem passaporte diplomático. Do chão de fábrica só ficaram os "amigos" saudosistas, pendurados na corda bamba da nostalgia. E tem os “ex-inimigos”, da diretoria, que agora financiam o jogo. O discurso? Put´s o discurso... ele é multiuso. Na duvida, diz que não viu, que não sabia. Como uma criança em fase de formação de caráter.
Verdade? Só a opportunis na melhor ode ao fim justifica os meios. Tá tudo tão misturado, infiltrado, que ninguém sabe para onde ir. Se a vingança é um prato que se come frio, nesse caso, de amor mal resolvido da esquerda com a direita, a vitória é um prato que se come bem quentinho com caviar e vinho encorpado.
Qual é o veículo de comunicação que não depende 70% do patrocínio do governo? Os canais abertos de TV gastam horas mostrando o furo da bala nas costas da menina, mas não abrem o diálogo para investigação das causas reais do crime institucionali.
O poder econômico se impõe sorrateiro, dissimulado, e simpático. Ele tem consciência de moda. Ora se veste de oprimido, de minoria, de ex-preso político, de índio, de assistencialismo, mas quando se despe, exala um individualismo exacerbado, podre, mofado de velho.

Me canso do velho na mesma proporção que o adoro. Adoro história, museu, biografia, mas me rendo ao novo. Sempre. Diferente da política e suas bandeiras rotas.

Em tempos de culto à diversidade, nem comunismo, nem socialismo, mais para social democracia. Garantia do essencial e promoção da diversidade, do individuo.
Capitalismo mórbido, coitado. Esse nem pensar. Insiste em ficar de pé, mas perde seus pedaços a cada dia. Pagar mais por quem promove mais, mas sem arrancar o couro do ser humano em taxas que não são convertidas em serviços essências, portanto, nem impostos são. Pelo menos ainda. Absolutamente obsoleto.
As novas gerações curtem, compartilham, ficam sabendo. Não cabem mais no separatismo social. Podem ser poliglotas apenas navegando na INTERNET.
O mundo está definitivamente ficando mais acessível.
Os inimigos de Cazuza estavam no poder. Os nossos, estão em qualquer lugar. Com todo tipo de roupa, cabelo e discurso.
Clodovil deve ter levado a lente da verdade.
Tudo se veste de bonitinho, de bacana, mas não se consegue despir os fatos com facilidade.
O IPI reduziu e faliu os municípios. Os prefeitos correm risco de não cumprir os compromissos fiscais, podendo ser julgados por improbidade administrativa.
Os carros flex foram a menina dos olhos do governo Lula. Ele vendeu o etanol e “não entregou”. O etanol é brasileiro, mas não é para os brasileiros. Não regulou o setor. A Dilma foi quem delegou à ANP. Antes era tratado como produto agrícola. Quem se deu bem? Montadoras, velhas adversárias do ex-presidente? Quem será?
A corrupção é uma doença invisível, deteriora aos poucos e só percebida depois do estrago feito.
É um inimigo que não se combate com armas, mas com educação e isso todo mundo sabe. Resta saber quem de fato irá colocar as mãos na massa.
Educação para não comprar nada barato, bem maquiadinho. Para saber que tem inflação sim, que os juros caíram e nem por isso vamos nos endividar, que vetar tudo que sai do Congresso não é a coisa mais democrática e tudo mais. Educação para selecionar a informação. Para neutralizar os radicalismos que tem enrugado nosso mundo lindo, mas farto.
Devolver os mandatos cassados é bom, necessário, mas fazer valer os atuais é muito mais para o momento. O passado é laje do presente que é o telhado do futuro. Que se ergam as estruturas mais eficazes, duradouras, climatizadas e belas! Para todo mundo. 

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