De
repente o pássaro ali, caído do ninho. Você o recolhe e cuida
dele. Dia e noite, até que ele, finalmente, milagrosamente consegue
voltar a voar. E voando nunca mais você o verá. Será que choraria
de tristeza ou de alegria? Será que a gente ama incondicionalmente?
Será que a gente vê o que faz o outro realmente feliz, que o
fortalece a ser quem o é e vibra junto?
Já ouvi
dizer que nas horas difíceis
é que vemos quem são nossos amigos. Mas, infelizmente, hoje acho
que os amigos com quem temos mais afinidade são aqueles que você
pode contar e compartilhar suas maiores alegrias porque será também
a deles.
Pensava
isso sobre as cerimonias de casamento e as festas que se seguem.
Quantas pessoas ali realmente estavam vibrando pelos casais? Não
estavam talvez a cutucar a própria ferida, mas enaltecendo aos céus
a formação de uma nova família?
Isso não
é algo óbvio, nem pronto, mas penso que seja treinável.
É como a
gente aprende a amar o outro. A partir de si mesmo ou a partir do
outro?
Como uma
criança com necessidades especiais. Se amá-la esperando que ela
seja como você, será frustrado. Se aprender a observá-la, ouvi-la,
outro mundo se descortinará. Muito além do óbvio. Na verdade,
todas as crianças são assim. Se não entramos no seu universo, não
entramos e pronto.
Como a
moça bonita de vinte anos. Todos a querem. Todos a desejam. Mas quem
em fim entenderá o que ela quer?
A beleza,
a diferença, são todos pretextos para a gente olhar além disso e
ver o que talvez seja a maior beleza de tudo.
Ensinar a
amizade desde sempre. Esse é o tesouro. Ensinar que o outro é o
outro e entendendo isso ambos podem se tornar mais próximos.
E a
consciência nisso tudo?
Ela é um
grande pano de fundo, um cenário necessário. Não há amor sem ela
porque ela é incompatível com a ilusão. Assim como o amor.
Se todos
buscam a consciência, de algum modo, mesmo que em estágios
diferentes, vão tocar a mesma centelha de verdade, a matéria-prima
do amor.
Mas se
fugir dela, se tentar pegar atalhos alucinógenos que o façam sentir
o torpor de não ser quem é, daí, abandonando o próprio existir,
não se consegue alcançar o outro realmente. É como uma corrida de
cavalos em que o jóquei quer ir fora do cavalo e deseja ganhar a
corrida. Isso é tempo perdido de vida.
A ilusão
é criativa. Ela formata o amor de muitas formas. O amor que salva o
outro de si mesmo, o amor que alegra o outro que não quer ser
alegrado... Esse deve ser o amor que está tentando dizer a você:
conheça-te, liberte-se de todos os outros e fique a sós com você
mesmo.
Depois
desse momento, quando você fica frente a frente com você, talvez
não seja tão confortável, mas deve ser a senha para o nível de
amor mais interessante. Você se depara com sua remela, sua olheira,
seus medos, tristezas e daí pode tentar corrigi-los. Lavando o rosto
não terá que conviver com remelas e até agradece por elas estarem
cumprindo seu papel de lubrificação. Dormindo mais e com qualidade,
agradecendo pelo dia antes de dormir, olheiras não terão mais
espaço, mas foram fundamentais para alertá-lo da falta de próprio
cuidado. E os medos? Sorrindo para eles. São sensíveis à
felicidade... Não vão resistir se olhá-los nos olhos com muito
amor e gratidão. Foram seus companheiros sabe-se lá por quanto
tempo.
Acho que
são muitos, vários os níveis de amor. E é maravilhoso. E nos
permite dizer não, sabendo que, na verdade estamos dizendo sim para
nós e para o outro. Diz-se que deve ser a base da educação. O amor
e a rigorosidade juntos, em harmonia. E no fundo, mesmo dizendo não,
você faz uma prece e abençoa esse mesmo irmão.
Somos
todos um. Diferentes e unidos na mesma direção. Uns lebre, outros
coelhos, outros jabuti mas todos irmãos.
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