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RIO DA VIDA

Hoje eu agradeço tudo na sua totalidade.  E também lamento. Lamento profundamente pela morte das flores que enfeitavam as margens do rio, mas que, com a cheia, foram assoladas pela correnteza. Sou humana. Lamento pela saudade do lilás mais belo, dos perfumes que nem sei se vou sentir. Lamento pela insana ausência de tudo isso que parecia mais vivo até que o próprio céu. Parecia tão verdadeiro quanto o próprio ar. Lamento que toda aquela delicadeza tenha sido varrida com a força devastadora da tempestade que vem cega para dar conta do que tem que ser. E agradeço! Ainda com uma ponta de lamento, mas agradeço. Lamento por ter que me convencer de que verdadeiro não é o sentimento, mas o lapso temporal em que ele existe. Afinal, tudo não deságua no amor? Então são só pedaços do rio. Pedaços do tempo, da 'flora' existencial. Pedaços de um futuro amor. O verdadeiro. Quando o ego findar. Mas ainda vou lamentar com verdade. Sem negar que lamento. A nobreza de lamentar está no reconhecimento da beleza, da promessa de algo que se apresenta como tal. E é, até que deixa de ser. Deve ser um pouco nobre lamentar pelo que existiu. Uma ode à nossa humanidade que tenta ainda tomar para si os pedaços explícitos de Deus, chamados de 'amor'. Mais para 'objetos' de amor. Ou 'canais" de amor. E a gente pensa que não cai mais nessa. Faz parte. Lamento por dizer a quem não souber que isso também é ilusão. Diz respeito a fatia de tempo na time line da vida. Não vou negar que já sei disso e nem que lamento pelo amargo da consciência de sabê-lo. É tudo ilusão? Acho que não. Até que começa a ser. Ficam as ruínas. Os cacos que lembram que tudo aquilo já foi suntuoso, já fez e teve sentido e poderá, quem sabe, ser aperfeiçoado um dia. Das certezas da vida que venho me desvencilhando: nunca sabemos quando a flor vai virar pó ou comida de peixe. Que fiquem as memórias. As 'fotos' da alma. Os cheiros, a sensação de reconhecer ou ter reconhecido em algo/alguém, a própria mão de Deus. Namastê vivo e pulsante. Até que o rio faça seu trabalho. Então muito grata dona vida! Eu abençoo a transformação. Poderia ter sido brisa, mas foi trovão. Mas vai que o ventinho se encantasse pelo ciclame? As coisas são como são. Para romper uma fita, os dedos, para romper um laço, tesoura, para romper uma corda, serrote. Para romper  um lapso temporal de amor perfeito, só o insano. Apenas ele. Palmas para ele. O insano tem meu respeito.  Por isso eu aceito. E confio. Deve ser para melhor. E não foi feito para entender. Amanhã eu espero lamentar menos, sorrir mais, lembrar apenas o suficiente, para que, depois de amanhã só reste mesmo a gratidão. Com sorte, daqui um ano possamos sorrir de tudo, sem lamentos. Sentindo e exalando a gratidão até que ela não precise ser falada. 

Comentários

Miguel Beirigo disse…
Rio da vida


Rindo da vida
Descobri um rio de sorrisos
Que da vida
Não esperava

Rindo da vida
Neste rio de sorrisos
Senti coisas na vida
Indefinidas em palavras

Rindo da vida
Neste rio de sorrisos
Encontrei minha cura
Na paciência de minha amada

(*)

Rindo da vida
Neste rio de sorrisos
Encontrei no ''insano''
A única explicação sã

Rindo da vida
Em minha piscininha de sorrisos
Sigo consciente de que nesta vida
Tudo se espera

. . .

*(Rindo da vida
Neste rio de sorrisos
Descobri oceanos
Com portas misteriosas

Rindo da vida
Neste rio de sorrisos
Descobri que estas portas
Precisam ser abertas)

M.B

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