Pular para o conteúdo principal

PALAVRAS. O QUE VIRÁ DEPOIS DELAS?


De novo me pego no velho e esporádico dilema com as palavras.

Ultimamente eu tenho reparado que só me agrada ler aquilo em que realmente sinto verdade.

As palavras não têm culpa, é claro. Nem os poemas, nem as declarações mais românticas, e, principalmente elas. Pode ser bonito, arcaico, coloquial, mas se não “colar”, já era. E isso nada tem a ver com a forma. As vezes me canso de palavras. Ou talvez as ame tanto que fica mal ver seu uso indiscriminado. Palavras vazias são como flechas soltas no universo, perdidas, atravancando o fluxo de boas ideias e sensações altruístas.

Uma vez eu conheci um poeta. Ele é para mim um arquiteto de letras. Enfiava aqui, dobrava ali e no final dava uma boa construção. Nesse mesmo dia encontrei também uma poetisa, um pouco menos famosa. Atendendo a pedidos, ela, na sua posição de coadjuvante declamou um poema de sua autoria. Era dela cada sensação, cada dor, cada libertação. Tinha tanta verdade ali que fiquei tosca. Daquele jeito que a gente fica quando sente a dor do poeta. Em 4, 6 estrofes a gente ama, geme, bate, apanha, renasce, e se pega ali, de mãos dadas com aquele estranho. Cúmplice. Ela sim, me bateu mais poeta, só porque me fez sentir. Sei lá quantas estrofes, versos, cadência, rimas, nem notei, só sei que tinha vida ali. E eu senti. A vida era dela, mas me alcançou. Acho que o poeta pensa ser solitário, só que não o é.  

E então, quando você tenta rabiscar algo que está sentindo, cri cri cri. Já aconteceu antes? Sim, algumas vezes. Comigo e com a torcida do Flamengo, eu sei. 
Por algum motivo ou por vários, estou usando mais o sexto sentido ou sexto “sentindo”. E o sentir tem essência própria. Quântica. Pode tentar chamar de verde, amarelo, quadrado, inflado, murcho, mas nada cabe nele. Tipo aquela roupa bacana, mas que não veste bem? Aquele dia que coisa alguma te representa e você gostaria de sair pelado e livre para comprar pão e ir ao banco?

É assim que tenho me sentido de uns tempos para cá com relação às velhas e amigas palavras. Certa vez aprendi no tai chi que palavra é energia e, por isso, assim como pelos olhos e ouvidos, perdemos energia com o uso inadequado delas. É só pensar na sua mente quando está de frente para a praia, bela paisagem, ou vendo uma molecada brincar ou, de frente para o Zeca Camargo falando da máfia dos stent’s em pleno domingão hot. O que te dá mais tesão? A), B) ou NDA?

Será que no futuro a gente vai se comunicar pelo olhar? Pelo pensamento? Em silêncio preciso e precioso? Com o sexto “sentindo”? E note, não há ruídos nesse modus operandi. Você entende com o coração. Há! Truco professor Marcel! Divergíamos porque ele teimava (eu não :_)) em dizer que só se entende aquilo que se consegue explicar. E se o cara for ruim de argumentação? Tem uma "inteligência" que é intuitiva. Eu acho.

Sempre curti palavras ditas, escritas, adoro sacar a voz das pessoas, o sotaque, trejeitos, mas escrever tem sido mais difícil porque a intuição definitivamente é líquida, incolor e absolutamente presente. Assim como a água.

Acho que é cíclico. Tempos de silêncio, de sentir apenas. De reter energia e derreter o desnecessário.

Palavras, mais uma vez me desculpem. Eu já falei disso, mas de novo, só que de outra forma estou sem repertório.

Tudo está acontecendo num outro plano. Se me chateio com alguém, observo, resolvo e chuto a bola para frente, e daqui a pouco já sinto até compaixão por coisas, eu diria, deselegantes que acontecem às vezes no mundo. Mas, se me encanto, sinto, absorvo, alimento a alma, tudo sem a menor vontade de tentar entender/adequar,  encaixar em alguma definição prévia aquela tal sensação. Só sei que tem sido assim. To sentindo. To vivendo. To meio “muda”, porém mais viva do que nunca. Sem palavras, utopias demasiado, romantismos utópicos, mas com os sentires aqui, pulsando.

 

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Pequi. Ou seria um ouriço? Os Deuses gostam de espinho.

Tão comum na Planalto Central, região de cerrado, seu nome significa “fruta dos deuses” . Por todo lado existe algo de pequi. Isso, eu até sabia. Já havia sido alertada por especialistas. Lá na Vila Industrial, em Campinas, onde fica a editora que eu trabalhava tem a pastelaria do Japa, em frente ao mercadinho da Vila e eles servem pimenta com pequi. Desde a primeira vez fiquei apaixonada pelo sabor. Tem mais hot e mais suave. Mas até aí, era ele lá e eu aqui. Separados por um vidro com liquido dentro. Meus colegas especializados na frutinha porém, me perguntaram se eu conhecia pequi. Eu disse que sim, sem prever o que estaria por vir e ainda reafirmei que na pimenta era uma delícia, o trem. Calda Novas. Na viagem de ida para Brasília paramos em Caldas Novas. O paraíso de crianças e pessoas da melhor idade. Desde que engravidei sempre quis levar o Dimi lá. Nem sei porque, mas tenho essa idéia fixa. Em Fernando de Noronha também. Entramos para conhecer um clube de águas

Status

Parte de mim é amor e a outra é ilusão. O exercício de viver é alargar as margens da primeira até que a outra simplesmente vire a uma. Tem dias que somos mais a primeira, tem dias que estamos na fronteira. Tem dias que somos pura beira. Não cobro e não ligo, olho pro lado e digo: nem vem, que eu sei voltar pra lá. É uma maré que sobe e desce, movida pelos sentimentos que são movidos pelos pensamentos. Já fui tsunami, já fui lagoa, fá fui até sertão, mas eu sei, é tudo condição. É passageiro. Eu sou passageiro, e também o mar, e também o chão. Ah essa Tao evolução, que cresce dentro da desconstrução. Esse tudo que busca se preencher de nada. Essa divisão que nos insiste, condição de alma triste, de um ego que se alimenta e se maquia de presente. E a união ali latente, aguarda soberana o fundir do último átomo, o ruir da última ilusão. Metade de mim é vida, a outra metade é desconstrução. 

A BELEZA E A DUALIDADE DE TUDO

Hoje no finalzinho da tarde reservei uns minutos para o silêncio, a contemplação e a observação da natureza. Na verdade levei um livro pra passear, mas sem culpa. Chegando ao local, o Sol estava tão acolhedor, com um sorrisinho de lado porque nos fez pensar que ele não viria. O céu azul, com nuvens em camadas de diferentes tons formava um mosaico fofo d e texturas diversas que inspiravam a imaginação a pensar que a diferença de altura entre elas era enorme. Pensei em deixar o celular em casa, mas precisava dele para saber a hora de fechar o parque. Sendo assim, diante de um espetáculo de andorinhas, garças e em posse de uma câmera, nem pensei. Deitada esperando meu corpo secar de um mergulho coloquei a o celular a postos para traduzir um tico do espetáculo que meus olhos presenciavam. As andorinhas são um capítulo a parte. De uma delicadeza, precisão, perspicácia e agilidade de dar inveja. Tão delicadamente dando rasantes e plainando por entre os prédios como uma rota de di