Ontem foi o dia mundial da saúde e também o dia da profissão
que escolhi. Por dez anos não tive outro ofício senão o de jornalismar :_)
Cheguei a trabalhar em três lugares e achar uma brecha ao longo do dia para
tocar projetos paralelos. Quanta inquietação e haja saúde!
Minha primeira matéria foi um trabalho de geografia no ensino
médio sobre uma visita a uma usina de cana-de-açúcar. Me deparei com os
cortadores e sua realidade nada doce que me pegou por assalto. Eu, que não
entregava tarefas e repeti de ano por
viver no mundo da lua tirei um dez verdadeiro. Aquilo precisava ser mostrado.
Era desumano, escasso e em descompasso com a nossa realidade urbanamente
confortável. Acho que a gente nasce jornalista.
Quando vi minha grade curricular no primeiro dia de aula na
faculdade, amei cada letrinha. Era muito bom voltar a estudar por opção depois
de 3 ou 4 anos parada. Tinha um gosto gostoso como se eu enxergasse detalhes da
paisagem que antes eu não via.
Sala de aula, antropologia. Jornalismo internacional,
filosofia. Eu finalmente estava motivada a estudar. Mesmo velha, me sentia
feliz por voltar a estudar! Quanta pretensão, querer a velhice sem sequer ter a
maturidade de uma jovem mulher! Mas jovem é assim. Se coloca entre arestas para
poder rompê-las.
Foram quatro anos queridos. Difíceis em alguns aspectos, mas
queridos. Cheios de esperança, de sede, de viço. Para quem antes trabalhava por
um pequeno salário e sonhava com profissões tipo ser limpador de craca de
navios, gostar do curso me deu a força necessária para ser garçonete, secretária
de um Cônsul africano, vendedora de interfones, de gel comestível, de
maquiagem...
No último ano, a gravidez. Felicidade dupla. Desafios
multiplicados. Eu tinha força extra para concluir. Minha vida profissional
começava ali. Fértil de amor, de vontades e desafios.
Dez anos se passaram. Eu, mãe solteira, de família classe
média e um passado repetente que me fez perder o time de algumas coisas como a segunda língua, por exemplo. Tive que
correr atrás do bonde e tentar a janelinha. Por vezes consegui, outras não.
Uma vez fiz uma entrevista na embaixada de Omã e paguei o
mico de dizer ao moço de turbante: I don´t speak english! I’m sorry.
Conheci pessoas maravilhosas, cobri temas interessantes, ao
menos para mim. Fiz ao vivo.
De tudo, tudo, me definiria hoje como uma alma de repórter.
Não aquela sedenta pelo furo jornalístico. Minha falta de ambição se lixa para
essa coisa de furo. Gosto de matérias edificantes. Aquelas que te dão sentido. Que
contextualizam e nos dão sensatez, objetivos. Esperança. Sempre ela a me motivar. Num texto, nos causos, na vida.
Agradeço cada coisinha e reforço: não é fácil! Mas é lindo
porque alma alguma pode ser pequena se deparando com tanto mundo, tanta gente,
tanto de tudo! Parabéns a cada um de vocês que sabe a dor e as delícias (devem
ser em maior quantidade) de ser #jornalista. Jornalícia :_)
Muita saúde, perseverança e criatividade. Sempre!
Foto do dia da minha apresentação de TCC.
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