Já faz uns dias que tenho pensado sobre isso. Na verdade “issos”.
A necessidade de ser guiado por uma religião e também na nossa sociedade
patriarcal. Acho que esses dois temas estão tão intimamente ligados que é quase
difícil destacá-los individualmente.
Eu não me dou bem com a hipocrisia e não é de hoje. Muito
nova ainda indaguei ao meu pai no que a virgindade ajuda se casais separam-se
mesmo quando a mulher (claro) se casou na condição de virgem? Mesmo que a mente
dela tenha percorrido livros, vídeos, conversas e fantasias eróticas. O sexo
sendo vendido como sujo desde sempre. E pureza como inalcançável.
Daí a gente taxa as pessoas pela opção sexual. Mas péra aí? Defina
‘opção sexual’. Trata-se de penetração, de preliminar ou de relacionamento
afetivo? Sim porque sexo anal é parte da cultura de muitos casais héteros,
inclusive com a mulher na posição ativa. Tem homens que praticam sexo com
mulheres mas, jamais se permitiram intimidade com elas. Soltam-se apenas entre
os amigos e devem transar com mulheres apenas para poder dizer a eles que o
fazem. Tem pessoas que se relacionam
apenas com quem não transam. Outros tem mais prazer com o vídeo game do que com
o sexo. E isso não é uma crítica. Como assim pautar tanta coisa por esse aspecto?
Aliás, tratando-se de héteros, ninguém pergunta a posição sexual do casal,
então por que diachos nos preocupamos tanto quando se tratam de dois homens,
porque mais uma vez, para duas mulheres, tudo bem , porque os homens acham
legal.
Eu não sei onde isso tudo começou, mas é hipocrisia de todo
lado.
Nunca ‘cheguei’ em alguém para paquerar ou coisa do tipo,
confesso que não pratiquei isso. Mas, por outro lado, não quer dizer que eu
ache normal um homem que troquei meia dúzia de palavras cordiais me perguntar
se sou casada na lata. Acontece o tempo todo e é bem chato! Acho que ser cortejada
é diferente de ser invadida. Um prevê sinais de correspondência, de abertura e o outra não. Semana passada um senhor me perguntou na recepção do dentista se
eu era casada. Respirei desejando ser educada. E tive que respirar de novo: mas
tem namorado né? E quando ele soltou: “os homens não estão te vendo do jeito
certo”, eu tive que colocar um “espelho” para que ele se visse na situação. Por que diabos
eu tinha que ser casada? Ou ter namorado? E responder a um estranho coisas de
fórum tão íntimo? E dizendo isso, ele vem com “antes só do que mal acompanhada”.
Não senhor, não tenho recalque. Eu não tenho nada contra casamento ou namoro.
Eu tinha cometido o pecado/erro grave de estar solteira naquele minuto. Isso
quando não ouço que, se eu for lésbica tudo bem. Mas e se eu não for? Não está
tudo bem? E se eu tiver me apaixonado pela pessoa “errada”? E se eu estiver
sozinha por opção? E se eu apenas estiver esperando minha consulta? Perguntei ao meu amigo de 33 anos se alguma senhora já havia lhe perguntado em circunstâncias semelhantes qual seu estado civil e é claro que a resposta foi negativa.
É a mesma lógica da religião. Quem me conhece sabe que já
estudei um punhado delas. Frequentei outras tantas e não nego, aprendi muito.
Mas, com esse perfil, não ía dar certo por mais 37 anos. Você tem que casar
virgem. Opa, tenho um filho. Você tem que perdoar. Beleza, mas pra conviver
preciso ter amizade. Se sentir que não teve amizade vou embora desejando a
felicidade do outro e a minha. E isso é ruim? Não. Nada é ruim. Existem coisas
dolorosas, mas sempre trazem um aprendizado válido. Então não há pecado? Não.
Há níveis de amor, de entrega, de consciência. Há maturidade em diversos
níveis também. Há troca de experiências.
Outro dia refleti como muitas mulheres casadas, na igreja,
numa família ideal e feliz também sentem-se sozinhas em momentos chave. Não tem a ver com estado civil. É cultural. Ninguém pergunta
se temos medo de dar banho no filho de um dia de vida, ou, nojo de cocô. Simplesmente vamos lá e fazemos.
Às vezes eu me pergunto se a diferença de sexos é mesmo uma obra divina, ou foi
uma experiência alienígena. A gente lá, com a barriga inchada, os hormônios a mil,
tentando proteger a cria do mundo, dormindo mal para amamentar de hora em hora e
o seu parceiro com nojo de trocar frauda. Vai sair para arejar enquanto você
completa meia maratona percorridas entre de peitos e fraudas. Quantas vezes ouvi isso.
Quando foi que a
gente se mostrou tão pouco para os nossos meninos? Sim, porque criamos meninos
velhos, meninos jovens, meninos, meninos. Meninos que não saem de casa, meninos
que não aceitam perder uma eleição (principalmente para uma mulher), meninos
que acham que podem invadir a privacidade sagrada de uma estranha na internet,
na sala de espera, no clube e perguntar se ela é casada sem que ela sequer
tivesse sorrido para ele, ou trocado telefone.
Andando pelo Congresso a gente logo percebe que os pins no
paletó são maioria do que em taier’s. Infinitamente maioria.
Quem esse pessoal está de fato representando? Não quero aqui
criar um discurso sectário, uma seleuma, mas, verdade seja dita, quem estupra? E
quem elege? E quem se reconhece onde? Onde estão nossas lideranças? Onde está
nossa voz?
Infelizmente conheço dois casos de babás que abusaram de
meninos ainda na primeira infância e, embora alguns devam achar engraçado, não
sei dizer o que isso significou na mente desses caras. Existe problema desse
lado de cá também, mas o que sei é que o número declarado de mulheres abusadas
é bem maior. Na infância e por pessoas conhecidas. Mais uma vez, como será que estamos criando
nossos meninos/homens? Enquanto mães, pais e enquanto sociedade?
Não tenho respostas, só perguntas.
Recentemente, li que, na rebelião de 24, ocorrida em São
Paulo, ocorreram muitos estupros cometidos pelos soldados. Quem sabe disso? Até o abafamento do crime foi institucionalizado.
A nossa sociedade patriarcal tem mostrado que sempre
buscamos um autoritário para chamar de nosso. Na figura de um Deus castrador, (apenas
para as mulheres), de um deputado coronel, ou pastor, que ultimamente tem sido
quase a mesma coisa. Estamos viciados na coerção e na hipocrisia. Elegemos sempre
alguém ou alguma instituição para nos mostrar o caminho, nem que seja para
gente transgredir.
Não se trata de feminismo, tampouco de rótulos, essa coisa
horrorosa de limitar. O que me pergunto é: porque a gente busca sempre um
modelo de servidão. Por que elegemos pessoas com essa mentalidade? Por que
criamos homens que se acham mais frágeis que nós a ponto de não tirar o prato
que comem da mesa?
Discutir violência causa tanta polêmica assim? Por que? Por
que será? O ENEM jogou éter numa ferida social e cultural que estava cheia de atadura e
pomada e agora teremos que colocar o assunto na mesa, muitas vezes onde
acontece a própria violência.
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