Sou branca, filha da classe
média. Meus avós maternos são campineiros e os paternos mineiros. Meu pai não
mamou no peito. Só chazinho. Minha avó teve filhos em série, não tinha peito
pra todo mundo. Meu avô materno chegou a ter 5 empregos. Estudei numa das
melhores escolas de Campinas na época, porque meus pais entendiam que isso era
a melhor herança para um filho. Não tenho carrão, moro de aluguel. Meu pai só
frequentou o grupo escolar na fazenda, mas fala francês fluente porque seu
trabalho exigia. Eu mal falo inglês. A cultura não foi muito contextualizada na
minha vida. Fui aprendendo de curiosa e com o tempo as coisas ganharam sentido.
Hoje agradeço a tudo, principalmente porque não esqueci quem sou. Minha avó
materna era quase negra, meu avô paterno também. E eu já sofri preconceito por
ser branca, por ser mulher, e por não ser “feia”. "Você está mais para
modelo do que para jornalista", sim eu ouvi isso trabalhando num
sindicato. “Você tinha cara de patricinha”, me alertou um outro amigo
justificando um período trash trabalhando entre meninas pouco simpáticas. O que
muda é a roupa, mas raiz da ignorância é sempre a mesma. Já perdi bolsa do FIES
porque morava numa casa boa e meus colegas que não gastavam seus salários em
balada enquanto eu entregava tudo na faculdade. Foram anos assim, vivendo com a
ajuda de custo. Assim é a classe média. Se ferrou historicamente e se ferra
ainda. Não tem programa social para nós. Não tem ballet de graça, não tem tênis,
não tem idiomas. Nunca fui à Paris. Escolhi uma profissão que remunera muito
mal nos primeiros anos da carreira. Mas de tudo, não esqueci quem sou. Não
defendo a truculência da PM com o filho preto dos outros porque sou mãe e a dor
de uma mãe é universal. Dói em qualquer idioma. Não defendo governo tucano
porque nunca, nunca fizeram coisa alguma pelo social neste país, além de roubar
e se perpetuar no poder. Eu só passei fome e frio porque me meti numa situação
que me levou a isso e por pouco tempo, mas muitas pessoas passavam fome neste
país. E eu não me furtarei a isso. Me lasco sendo classe média. Sempre foi
assim, mas eu ainda acredito numa nação. Não só no melhor para o meu filho, que
também é classe média e também vai saber como é foda viver na fronteira entre a
oferta, demanda, a qualificação e a oportunidade. Quando me refiro à classe
social, não é pelo dinheiro, é pela indiferença institucionalizada que sempre
existiu. Morre 5 negros no morro e o PM aponta uma arma para estudantes de
escola pública que tentam se organizar e não é comigo porque estou
diametralmente longe disso. Ilusão! Estamos todos conectados. Talvez minha
gastrite crônica venha disso. Dói! E vou sentir pra sempre. Eu moro neste
planeta. Esta é a minha casa e por ela não pago aluguel. Não dá pra continuar
cheirando um quilo de pó por mês nos condomínios e deixar o pau comer nas
periferias. Não dá para vender maconha pra pagar a viagem do amigo num bairro
nobre e acadêmico da cidade, enquanto o pau come nas periferias. Esse mercado
abre brecha para se lavar dinheiro de toda instituição de poder: igreja,
política, prostituição. A droga é só um detalhe. Por tudo isso eu digo que a
doença do mundo é a hipocrisia disfarçada de indiferença. Talvez um exercício
de libertação seja começar a aceitar quem se é e assumir o que se faz. Sua cor,
sua família, sua origem. Suas opções. Sentir verdadeiramente a dor e a delícia
de sê-lo. Antes as coisas não “vinham” até nós. Tínhamos que abrir o jornal, de
preferência numa mesona para folheá-lo. Agora, querendo ou não, você sabe a
face da vítima, o último olhar, você vê mais a cara do Cunha do que da sua
prima querida. E tudo num deslizar de dedo. E, como ainda se trata de novidade,
que a gente não se acostume com a dor, com a violência, com o despreparo, com a
anti-informação, com a maquiagem dos fatos. Sonho com um mundo bacana, mas
aprendi que ele só virá quando mais pessoas o quiserem também. #divergente #saideretoindiferença
Tão comum na Planalto Central, região de cerrado, seu nome significa “fruta dos deuses” . Por todo lado existe algo de pequi. Isso, eu até sabia. Já havia sido alertada por especialistas. Lá na Vila Industrial, em Campinas, onde fica a editora que eu trabalhava tem a pastelaria do Japa, em frente ao mercadinho da Vila e eles servem pimenta com pequi. Desde a primeira vez fiquei apaixonada pelo sabor. Tem mais hot e mais suave. Mas até aí, era ele lá e eu aqui. Separados por um vidro com liquido dentro. Meus colegas especializados na frutinha porém, me perguntaram se eu conhecia pequi. Eu disse que sim, sem prever o que estaria por vir e ainda reafirmei que na pimenta era uma delícia, o trem. Calda Novas. Na viagem de ida para Brasília paramos em Caldas Novas. O paraíso de crianças e pessoas da melhor idade. Desde que engravidei sempre quis levar o Dimi lá. Nem sei porque, mas tenho essa idéia fixa. Em Fernando de Noronha também. Entramos para conhecer um clube de águas
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