Anne
com E é uma obra de arte. Um romance atemporal que cutuca aquela parte da nossa
humanidade independente da época, da língua, da localização geográfica, porque
ainda temos os velhos dilemas para encarar no espelho.
Baseada
no livro Anne de Green Gables, da canadense Lucy Maud Montgomery, já em 1908 foi um
sucesso ao ser lançado, mas escrevo aqui sobre a série veiculada pela Netflix com
adaptação da roteirista Moira Walley-Beckett.
Considero
impecável a construção da narrativa, dos personagens, dos fantasmas de cada fase
e realidade de vida ali tão bem retratados.
Green
Gables não era um lugar ruim de pessoas más. Era um lugar parado no tempo, num
lopping repetitivo como mandam algumas tradições arcaicas e pesadas até a
chegada do pequeno furação Anne Shirley na comunidade.
Os
desafios que ela segue enfrentando são muito atuais e nos revelam aquela tão
conhecida diferença entre o tolo e o equivocado. O primeiro senta na condição
de certo e morre ali se preciso, afogado pela Tsunami da própria ignorância,
solitário. Já o equivocado pode ter algumas certezas sobre tudo, mas permite-se
ser surpreendido e avança, troca, cede, recebe e doa. Acho incrível que toda
transformação promovida pela menina órfã dos cabelos ruivos e a imaginação
fértil tem sempre a empatia como principal “arma” e contra isso é difícil ficar
indiferente. A dor que dói no outro dói em mim. Vale muito apena, em tempos
como esse se presentear com um bocado doçura e irreverência.
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