Meu amigo Ric quem me apresentou a série. Me presenteou, na verdade. Comprou as seis temporadas originais e me emprestou as tabajaras. Eu e ele temos essa relação de tráfico de influências culturais. Somos absolutamente devotos de boa (pra nós, é claro) música, bom filme, bons textos e minisséries e fazemos questão de compartilhar nossas descobertas.
Isso já faz dois anos. Comecei pela primeira temporada e de cara pensei: legal. Um monte de mulher transando com um monte de caras com situações inusitadas entre elas.
A dica é: passe das duas primeiras temporadas e você será laçada (o). Dito e feito. Vencida a primeira fase, quando as personagens estão no início de seus trinta anos, as histórias ganham corpo, forma e densidade. As efemeridades, o senso de humor, os pequenos detalhes não deixam de compor a cena, porém, regados a conflitos de peso. Tudo muito leve e muito profundo ao mesmo tempo. Como a minha própria vida e das mulheres da minha geração.
Foram quatro meses para dar conta de todas as temporadas com direito a gran finale junto com meu amigo, é claro. Foram grandes momentos. Aos poucos, a minissérie percorria as casas de mais e mais amigas e a reação era sempre a mesma: total identificação.
Foram quatro meses para dar conta de todas as temporadas com direito a gran finale junto com meu amigo, é claro. Foram grandes momentos. Aos poucos, a minissérie percorria as casas de mais e mais amigas e a reação era sempre a mesma: total identificação.
Voltando para a atualidade, com o filme explodindo nas bilheterias, batendo Indiana Jones e tudo mais, "as meninas" passaram a ser capa de dez em dez revistas na primeira semana de exibição do filme.
Mesmo antes de ter assistido, discordei de algumas das manchetes, típicas de quem, à trabalho, deveria escrever sobre, mas, visivelmente, nem sabia do que se tratava. Em uma das revistas elas foram citadas como responsáveis por um comportamento feminino típico de mulheres dessa década. Discordei mesmo. Acredito que a série sim é fruto dessa geração. Fisgou a essência, e não o contrário, como se não tivéssemos cara, personalidade e nos deixássemos levar simplesmente pelo que vemos na TV. Prefiro acreditar que não.
Outra revista semanal trazia uma conotação de que as quatro “velhotas” queriam se comportar como garotinhas. Acho que nesse caso, a jornalista (o) desconhece o aumento da sobrevida, e portanto, do tempo ocioso das pessoas que, conseqüentemente reflete no aumento de sexo, de desejos, de relacionamentos, de possibilidades diversas. Ou, talvez seja filha (o) de uma senhora que usa bob e lenços pra ir à feira e não faz sexo desde os 35! Pra ajudar, assistindo ao filme pude confirmar que Sara Jéssica Parker está mais bonita com 42 anos. E aí, não se trata só de beleza, mas de atitude.
Vendo as duas horas e vinte de filme, que, aliás, passam desapercebidamente, fui com toda aquela carga de informações que já havia absorvido da mídia e claro, me surpreendi. Falava-se tanto de moda que pensei que o filme iria descambar para uma direção bem diferente da minissérie. Algo bem mais específico como "O Diabo veste Prada". #sqn Falava-se muito de sexo também, com direito a críticas à personagem da Samantha, conhecida por sua libido acima da média e nesse caso da (o) jornalista celibatária, acima das possibilidades também.
Como companheira de profissão, sei que é difícil falar de algo quando não se conhece em profundidade e talvez por isso, as matérias tenham me parecido sempre muito equivocadas, mas suponho que uma pesquisa básica de aprofundamento tenha sido feita antes que o teclado começasse a trabalhar nas inúmeras críticas.
O fato é que, uma história foi construída ao longo de seis anos de série, dez com o filme. E seu “desfecho” estava ali. Um amor que sobreviveu à traições, omissões, foi a causa de um divórcio, foi também a salvação de uma entrega mal sucedida, tudo ali, prestes a se formalizar e não conseguiu num primeiro momento. Por quê? Porque diferente das novelas, que sinceramente não acompanho de perto, mas basta um único capítulo para sentir desprezo pelo roteiro fictício, utópico, com estilos de vida inatingíveis, no filme, o final se constrói, não se forja. Sexo? Quantas cenas de sexo aparecem no filme? A nossa ninfomaníaca Samantha se mantém mais fiel do que todos os meus ex-namorados conseguiram ser em bem menos que cinco anos de relação. Não consegue consumar a traição a seu parceiro, mesmo desejando loucamente seu vizinho por puro respeito à história de ambos. E, quando tem a recaída e decide voltar para a vida livre e intensa da conquista diária, do sexo pelo sexo, vai e assume. Em claro e bom tom.
Miranda passa seis meses sem sexo, e de repente, numa noite de amor, pede para o marido “que acabe logo com isso”. Depois ainda sofre ao saber que foi traída pela boca do próprio marido. E o cara só conta porque é extremamente apaixonado por ela. Um homem que conta espontaneamente a traição e ainda pede perdão. O steave é bem fofo. Ele sente.
Charlote sente-se culpada por ter uma vida feliz, depois de ter tentado se casar com meia Nova York, ter quebrado a cara, conseguido um primeiro casamento, quebrado a cara de novo, tentado salvar seu casamento, divorciado, ter finalmente encontrado o cara certo, descoberto que não poderia engravidar, batalhou pela adoção de uma criança, o que não foi nada fácil, até que finalmente consegue e aí, sua vida ganha certa estabilidade e ela até consegue engravidar. Por isso, sente-se tão feliz que não se acha merecedora de tantas glórias.
Finalmente Carrie, a nossa protagonista, depois de dez anos fingindo que conseguia se livrar do Mr. Big, assume uma relação estável com ele. Um amor que sempre existiu em plenitude, mas não conseguia ser vivenciado por pura imaturidade de ambos. Aquele comportamento típico de oito a cada dez homens, ao achar uma mulher muito interessante. E esse amor sobrevive à traições, se transforma em caso extraconjugal, é causa de um divórcio, muitos traumas, uma cirurgia de coração, uma “extradição”, um abandono de altar e sobrevive...pelo único e simples fato de que Carrie e Big se curtem. No sentido mais puro da palavra. São felizes juntos e encontram plenitude.
E daí, essas sobreviventes aparecem uma vez num desfile de moda e outras várias envolvidas em acessórios caros, em roupas de grife, mas poxa, quem não se emperequeta? Eu na baciada, mas tirando isso, vivo me montando.
Meu amigo e ex-patrão, Ibraim Saad dizia: cada um chora por onde sente saudades. Não sei se eu realmente sou fã dos roteiristas, das atrizes, da história, mas na boa, eu vi profundidade ali.
Falar que o filme se baseia em sexo e moda!!!!!!! E relacionamentos confusos???? Para minha geração isso é a mais pura realidade. Pelo menos para parte de nós. O filme fala de vida, de amor, de perseverança, de rendição. De desencontros, da dificuldade de acertar uma relação depois dos 30. Qual mulher workaholik, formada pela Harvard, que tinha um vibrador na gavetinha de cabeceira, não se vê meio perdida tendo que trabalhar, cuidar do filho e morar numa casa na periferia, super longe do escritório?
Tem tanta verdade ali. E digo mais, tem simplicidade. É sincero.
Para mim o filme homônimo da minissérie é muito mais que sexo na cidade. É sexo como um detalhe, até mesmo para a apimentada Samantha, que se separou para deixar de ser a sombra do companheiro. Não era apenas liberdade para transar. Era liberdade para ser o centro da própria vida. Manolo Blahnik é maravilhoso, os vestidos do ensaio para a Vogue são perfeitos, as bolsas Prada também, mas nada, nada disso poderia ser melhor que o dia-a-dia ao lado do Mr. Big para Carrie, e assim por diante. Atravessar Manhattan de pijama na véspera de natal para ver a amiga que sente-se solitária! Isso não é moda, é amor. E, infelizmente, nem anda tão na moda.Tudo sintético e, em plena Nova York, um pessoal vai amadurecendo. É isso que eu vi. Como boas mulheres modernas, que optam sempre pela felicidade e querem viver a beleza das coisas, celebrar a vida é belo, arrumado, divertido, mas não se engane: não é só isso. Por trás de alguns diálogos que podem remeter à total futilidade, tem sempre uma mulher querendo um sentido para a sua vida. Um sentido sensato e particular, individual. Cada uma com sua predestinação. Sex in the city é, com certeza, tanto o filme, quanto a minissérie, um relato sincero das relações modernas.
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Buáááááááá...
Bjos...