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Mudanças, andanças e os espinhos do caminho. Com os pés na estrada.




Foi tudo rápido.  
Xandão chega e diz. Temos que ir, fui nomeado.


Como já sabia dessa possibilidade, não me pegou assim tão de surpresa.


Acontece que trabalhando em dois lugares, com casa, filho eu acho que não tive sequer tempo de sofrer.


Além disso, eu tenho aquela intuição feminina lascada e meu coração, embora apaixonado pela minha cidade natal e por toda parte da história da minha vida que ela comporta, já vinha querendo algo novo.


Desde que eu me formei, quase não fiquei parada. Me meti em todos os segmentos possíveis, causas sociais, projetos novos e, se isso é bom por um lado, não deixa de comportar uma série de riscos por outro. Mas, a gente não quer só comida. Trinta e três anos, confesso que meu espírito aventureiro está em manutenção.

Como diz o Xandão, eu, que descia de helicóptero de ponta cabeça (na invertida), fiz treinamento paramilitar, hoje sou uma “rapeleira calhorda”. Rs


É assim que ele carinhosamente me chama às vezes.


Campinas parecia não me querer mais. Como aquela boa mãe que vê o filho indo embora e só chora depois que ele vira a esquina.


Tive oportunidades de trabalho, mas é preciso mais. Perspectiva, aprimoramento. Salário em dia!!! Ô coisa booooa.


E aí que, quando vi, já tinha me desligado da revista, da rádio e em uma semana tive que arrumar tudo.


A gente fica mexido com essas coisas de mudança, né? Um dia estava indo para rádio e dei carona para meu pai até uma oficina mecânica próxima ao meu itinerário. Era uma rua de ladeira. Ele desceu e estava tudo fechado. Ele disse que daria uma volta até se passar os trinta minutos para a abertura do expediente. Desceu do carro, se despediu e, pelo retrovisor fui vendo meu pai subir solitário. Caraca, desabei a chorar como se entendesse que a mudança estava prestes a acontecer mesmo. Ele indo para lá e eu para cá. Que cena!


Bom, mas voltando à mudança, tudo foi se acertando e em uma semana, a casa do Xandão estava na sala de casa. Todo mundo colaborando da forma que podia e o detalhe tão pequeno de nós todos, se fazia cada vez maior. Dimitri. Sete anos. Seis criados mais comigo do que com o pai. Agora, dividindo a guarda, ele ficava de sábado para domingo e de quarta para quinta com o pai. Eu teria que deixá-lo em Campinas para acertar tudo em Brasília primeiro. Era também o tempo de acabar os estudos e curtir o pai, a boadastra e o irmão Lucas.


Há muito tempo já comecei a trabalhar a coisa do apego. Sempre fui apaixonada pelo Dimitri e quando bebê eu tinha uma especial apreciação por cuidar daquele gordão gostoso. Trocar de fraldas para quem tem esse “Q” por bebês se traduz em momento de grande vulnerabilidade deles e supremacia nossa. É quando podemos apertar, fazer cócegas, ver o mapa do inferno cor de abacate de cima e depois transformá-lo em céu com cheiro de Jonshon e Jhonshon.


Porém, algum tempo depois da minha separação, ele era bem pequeno ainda, e eu voltei para a casa de meus pais, o que implica necessariamente em voltar a ser filho quando eu aprendia justamente a ser mãe. Era demasiadamente difícil tudo, tudo junto e ao mesmo tempo. Fora as questões sentimentais que ocupavam 80 % do meu domínio cerebral. Foi nessa época, em busca de emprego e com faixas amarrando os peitos, grandes produtores leiteiros que foram por 11 meses da minha vida, que cheguei ao pai do Dimitri e propuz que os sábados deveriam ser dele.


O meu bebê. Gordo e radiante. E eu tive coragem. Acreditem, pode parecer frieza, mas eu, no auge dos meus 27 anos precisava retomar algum controle da minha vida. E fiz. Na época todo mundo ficou surpreso, mas hoje vejo que foi só o começo.

Para o pai, uma chance de se aproximar do filho mais profundamente do que em visitas semanais. Para mim, o começo de uma criação que, diferente da planejada, seria sempre compartilhada em no mínimo duas casas.


E assim, o Dimitri, Dimão, Diméca, Dimi, foi crescendo em dois lares, às vezes três, quatro. A casa dos avós maternos, dos avós paternos. Amigos do pai, amigos da mãe. Famílias dos namorados dos pais e etc.


E assim, o nenê que não me deixava ir ao banheiro sozinha, aprendeu a me dividir com tudo e todo mundo. Opa, nem tanto assim!


O bom disso tudo, é que nunca faltou amor. De todos os lados, sempre querido.


Quando me mudei da casa dos meus pais com meus irmãos e minha sobrinha, daí sim, a célula de multiplicou e a família fermentou.


Eram amigos chegando e saindo, e ele ganhou a convivência diária com a prima. Ali ele aprendeu a brigar e a bater, como fazem a maioria dos irmãos para imediatamente depois fazer as pazes como se nada tivesse acontecido.


Pouco antes de anunciar ao pai do Dimi a nossa partida, ele me escreveu: “o Dimi disse chorando que não gostaria de ficar longe de um de nós!”


Danado esse carinha! Ele nem sabia ainda!


E assim, aproveitei para anunciar a nossa mudança, o que é claro, levou todos e principalmente o pai aos prantos.


Tudo certo, nos despedimos e seguimos em frente.


Deixamos uma história, parte de nossa família (o Xandão tem familiares em Porto Velho também), a mobília e os eletrodomésticos que não são 220 como em Brasília , e o Dimi aos cuidados do pai.


Foram 19 horas de viagem. A gente acha que conhece as pessoas até realmente conhecer. O Xandão dirigiu quase um dia inteiro corrido e eu ia ao lado, pescando e acordando assustada com medo de Ele dormir! Quem me conhece sabe que eu e nada como co-pilota é igual queném.


Fiquei muito admirada com mais essa habilidade do meu homem (huahuaha).


O primeiro cd para chutar o pau da barraca foi Kid Abelha Acústico, que marcou a faze da QG, uma produtora de vídeos que meu irmão tem até hoje, mas que, logo no começo contou com a participação de muitos de nossos amigos e que tem história para contar.


Eu sentia uma força estranha. Um misto de felicidade com despedida. Senti a presença dos meus irmãos, família, amigos.


Paramos em Calas Novas. A maldição do Pequi.







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