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Campinas, eu, Brasília e uma dose de redenção.



Demorei tanto para colocar no papel...
Não foi em tempo real. Estava devendo essa retratação. E faz um tempo já.
Desde que comecei a metamorfozear aqui, em Brasília, a cidade que disse e escrevi que não iria gostar.
Hoje você faz anos, então vou aproveitar e te contar. Minha doce terra. Nem sempre tão doce, mas mãe é mãe. Foi severa com os negros. Um dos berços da aristocracia cafeeira, testemunha ocular dos anos de ouro das linhas férreas, e da falta de sensibilidade com o ilustre filho Carlos. Pátria do primeiro time, mas não do primeiro campeão. (brincadeira!)
Terra amada e querida, mas, como uma filha íntima e amiga, que tardiamente saíu de casa, reconheço seus desafios. Alimentou algozes e rapinas e agora, terá que se desfazer disso. Tudo vai passar. Mude mesmo a vocação. Tire o bigode e a cartola.
Vista algo mais simples Campinas, mais cool. Os tempos mudaram. Até a Treze mudou. Nas fotos do V8, era tudo aquilo, chapéu, floreiras, ordem no calçadão. Charme holywoodyano.
Hoje, a Treze é o mundo. É de rico e moribundo. É de pombo e de Raimundos, e Marias e Magazines.
É de semblante automático, de boleto para pagar até as quatro. É de sacolas cheias e opções fartas.
Tenha coragem menina. Você já é uma mulher cidade. Guarde com carinho as lembranças dessa vocação para lembrar que disso tudo teve uma lição.
E viva, viva de verdade numa nova direção.
Faça as pazes com a diversidade que te encorpa hoje e com o mundo científico que é sua nova roupagem. Não deixe que os homens de terno ignorem isso e tão pouco que os cientistas políticos briguem por suas ideologias, se forem vazias.
É hora de agir. Sem essa de slogan, porque todo mundo, de alguma forma sempre mais precisa de algo.

A cidade deve pensar como um único organismo, que é, e pensar no milhão e meio de uns, na uma, que são.
Acolha seu filhos com todo seu potencial. Somos todos teus.
Daqui, de longe, olho tudo como se fosse um sonho. Tanto tempo parece ter sido tudo sempre igual. Espero que esse seja seu presente. Um pouco de liberdade, e que os bares possam voltar a ter vida, sem a propina e que o altruísmo te invada junto com um pouco mais de justiça no social.
O frio foi diferente justamente nesse ano para marcar a transformação! O novo, que sempre vem, mas às vezes demora. Viva o novo! Viva Campinas! Assim desejamos, seus filhos de coração. Tim, tim minha querida.
Eu hoje resolvi escrever. Parei de adiar. Não dá mais para esconder. Eu tenho um novo amor. Ela não substituíu você, sequer diminui esse nosso lance.
Eu disse que não ía gostar dela, bati o pé. Cheguei e tirei logo um raio X. Uma visão chocada de quem é frágil ainda. É paulista e quer cada coisa no seu lugar. Ilusão...
E, exatamente como acontece no amor, absoluto e duradouro, que vem para ficar, fui tomada de uma paixão que nascia à medida que eu a tocava. Eu era obrigada a tocá-la.
E nem me tocava.
Estava ganhando meu mundo.
Ainda sem carro, não percorria suas artérias, organizadas e fluídicas. Andava pelos vasinhos, descobrindo seus segredinhos, seu meio, seu ambiente.


 


As árvores gigantes, disfarçadas de centenárias quebrando o concreto das entre quadras enquanto eu caminhava.



A arquitetura que me olhava porque eu era indiscreta e tentava desvendá-la. Quadrada e Solar. Cheia de espelhos e vidros. De horizonte à vista, de céu lambendo minha franja.

Aquela arvorezinha. Ai aquela danada. Eu e a Carol, que esteve aqui de passagem muito breve, bem no comecinho, reparávamos nela toda contorcida, sem cabelo e sem verde e tudo era estranho, retorcido.




Um dia, caminhando, levei um tapa de um perfume bom, tipo colônia de bebê. Olho para os lados e não vejo nada, ninguém, apenas árvores. As árvores, A árvore! Era ela. Aquela mesma, sem cabelo, agora já tinha penacho, espinho, flores amarelas e mais! Dezenas de passarinhos, bem miudinhos, como uma árvore playground e um lagarto que adornava o cenário de forma soberana.
Que vergonha. Lá estava eu, diante de tanta beleza e perfume, bem daquela ex-careca que eu apontara meu dedo torto.
Foi assim, foi assim que essa cidade foi me ensinando a ser forte e a não confiar na primeira impressão. Pequenas dicas que eu absorvia na prática, pulando os obstáculos, correndo e passando o bastão para o próximo capítulo. E foram tantos, tão rápidos, densos. Um livro dos bons, do tipo bem recheado.
Aqui choro e sorrio na mesma proporção. De tristeza já parei de chorar, agora só de redenção.
Para sobreviver aqui, longe do caule, dos bulbos, da minha semente, tive que me olhar por dentro. E à medida que eu me via, eu a encontrava mais também.
Aqui não há lugar para fracos. Até o pedinte sofre mais aqui. Sob o Sol que ilumina, mas queima nossas retinas sem Ray Ban. Aqui, a música está cravada na alma. Nem sei se eles percebem. Erudita, choro, rock nacional, psicodélico. E o Hino Nacional às oito! Aqui deve ter mais bandeiras nacionais do que em qualquer lugar do país, mas ainda acho pouco.
E tem a majestosa, minha linda, meu tóten de fé patriota.

Há Campinas, se eu pudesse te mostraria Brasília. Sim, tenho vergonha de tê-la visto assim, de maneira tão superficial antes, mas eu disse e escrevi: queria sentir de primeira, engolir os sabores sem mastigar e depois pensar e entender os porquês e foi assim que o fiz.
Tem muito ainda, tem tudo para desvendar. Mas ela me fez forte de novo, cresci dez centímetros, joguei muitos sonhos fora e estou trocando de muda, como as serpentes e as cigarras (baratas finjo que esqueci).
Eu vou plantar o melhor de você aqui, como muitos candangos e vamos somar nesse álbum nossas figurinhas.
Você estará aqui, por mim e por seus tantos que vieram e virão.
E espero que venham muitos. Assim, de bom coração. Que na seca resistam e na primavera, passem a existir mais. Sabe Campinas, hoje sou completamente dela. Olho para esse céu e assumo: ele tem poder sobre mim. Essa ruas largas, esses prédios retos. Minha casa sem mobília, mas cheia de liberdade, onde o pé direito é o firmamento.
E a seca de Brasília deve ser como a sinusite crônica. Todo ano vem, mas quando vai, faz você inspirar mais gostoso, mais intenso, mostrando que tudo passa e teremos dias bons, floridos e perfumados novamente.
Brasília no começo, assusta, oprimi, repele, mas não machuca. É culpa da política, que finge ser sua vocação. Seu Luis disse que é a cidade da transformação. Hum.
Hoje a vejo como um gigantão sem dentes e gigantes também tem medo.
Aguarda calado pela compreensão amorosa e competente que um dia chegará.
Me afeiçoei ao gigante e ele até sorriu pra mim.
E disse como quem quer se mostrar simpático para ser aceito: “aqui a gente não buzina!”.
Eu disse: “Relaxa. Buzinar faz parte. É alerta de segurança. Querem te calar. Você tem que ser mais que isso. Aqui também se rouba e não vai preso”.
Olhando bem de perto, o gigante é bonito. Precisa de um banho, descanso e um check up.
Tratar tudo o que for preciso.
Colocaram black tie no gigante logo que ele nasceu e nunca mais lhe trocaram as peças, nem lhe deram um banho. Agora, suas calças de pular brejo não escondem o desleixo. A Plebe rude disse que o concreto trincou.
Não da para tapar a canela do gigante! Mas o Sol, natural, previsível e certo chega nas canelas dele.
Então Campinas, esse é o nosso trato. Nosso pacto de amor estendido. De duplo abrigo, porque amor nem tem fronteiras nem beiras, é como o mar.
E se gosto tanto do que vejo aqui, ou em algum lugar do mundo que ainda vou ver, é porque você me ensinou a amar.
Desculpe minhas falhas e omissões. E chega de perdões.
Sabe, aqui também tem andorinhas!

 














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