Brasília
Minha natureza me presenteou com dose de senso crítico. Quase sempre isso não é bom. Seria se eu tivesse também a sabedoria de entender, que o processo é lento e até mesmo nas coisas mais óbvias, regadas de certeza e razão, há que se crer no futuro, porque na verdade mesmo, pouco está em nossas mãos.
Existe a vontade coletiva, a vontade individual e a guerra entre as duas e quem prevalece até este momento evolutivo não é a coletiva. Talvez a gente nem saiba pensar coletivamente.
Mas junto com o pensamento crítico, a natureza me dotou também de uma capacidade de gostar de tudo que também nem sempre é bom.
Você, que se pintou como um quadro belo e embolorado, hoje está mais para um gigante grande desdentado e ferido em busca de socorro, de amor. E aqui estou eu, me apaixonando pela sua natureza rude, de árvores que me chamaram a atenção por serem nanicas e contorcidas e agora, dois meses depois, pelo perfume inconfundível, pela quantidade de mini pássaros que se abrigam na sua copa, mesmo com seus grandes espinhos e pelos lagartos que fazem das suas curvas, as suas ruas.
O céu coloca toda essa ganância daqui pertinho de Deus. E ainda bem. Imagine se estivessem mui longe do alcance da luz.
São poucos meses, muitas sensações e agora eu estava disposta a colaborar com você. Há tanto pra se fazer que nem sei se poderia ser muito útil. Você está sitiada. Sinto que é um estado de pré guerra. Há minas por todos os lados. Mas elas não explodem alto. É baixinho e comem as pernas e os braços das pessoas de vagarinho.
Será preciso muito mais que eu para te salvar dessa. Talvez, só o tempo. Tempo, tempo, tempo. Talvez não isso.
Mas Brasília, na ironia da minha vida, quando comecei a te ver melhor, te respirar e não só respeitar, mas admirar, decidi voltar. Voltar não, porque não sou a mesma. Morrendo e nascendo mais uma vez. Sou outra, nova e verei tudo a partir de agora de forma diferente. É sempre assim.
Volto para minha terra, mas deixo aqui minha semente. Nesta terra que tudo nasce e as vezes seca pra renascer depois como a arvorezinha do corredor, eu deixo minha fé, minha esperança e meu amor para que ele te tome e junto com as sementes de competência possam domar você, tratar seus dentes, afagar seu cabelo e curar suas feridas.
Hoje também me sinto cheia de força como um gigante, mas meus dentes e minha alma também precisam de bálsamo e arnica.
Brasília eu vou, mas um pouco de mim fica e um pouco de você levarei comigo.
Com amor
Alexandra
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