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Mais adiante no eixo. O eixo é bixo. O coração do gigante.

Na esplanada dos Ministérios tudo seguia em harmonia. Era domingo e não havia trânsito, nosso grande hálibe para a primeira impressão. Em dias úteis o trânsito é de arrepiar no trecho.



Falando nisso, outra mancada federal de Lucio Costa e patota, é ausência quase absoluta de calçadas.


Década de 60. O boom do automóvel no Brasil seria dez anos após a inauguração de Brasília. Porque o projeto de Lucio Costa não garantia as pessoas dignidade de usufruir do único meio de locomoção que já vem de fábrica: nossas pernas e pés.


Sem calçadas (insuficientes), a frieza é mais evidente na cidade Frankenstein. Se você insiste em caminhar e nunca se sentiu um excluído social, terá essa chance.

Congresso Nacional

As duas cúpulas, uma da Câmara e outra do Senado, tudo do Niermeyer. As torres que seguem suntuosas entre as conchas acomodam os escritórios de Senadores.


É belo, com espelhos d’água na frente e um grande gramado. Dizem que à noite o reflexo da água faz parecer que as estruturas estão flutuando sobre a terra.


Acho que por vezes, sob a luz do Sol ficamos com a impressão de muita coisa flutuando também.


A beleza arquitetônica do conjunto também faze alusão às dificuldades da democracia, que, apesar de incontestável formosura, nos desafia a discursar e conseguir atingir toda a grama do jardim. É como se aqueles longos canteiros, imensos e dispersos representassem de fato a dificuldade da mobilização social que sofremos no Brasil. Para surtir efeito uma manifestação naqueles espaços, ditos como destinados a isso, teria que reunir 1/6 do país para dar Corum. É claro que também é uma questão de segurança nacional, mas até hoje, todos nós sabemos que nossos maiores algozes estão bem ali, naqueles canteiros e não fora do país.


Seguimos em frente


Existe uma grande semelhança com os traços do paço campineiro no prédio do Congresso. Talvez porque sejam da mesma época, mas as linhas retas e o mármore branco da Prefeitura Municipal de Campinas não são do Niermeyer, e sim de autoria de Rubens Gouveia Carneiro Viana e Ricardo Sievers. Aliás, se realmente colonizassem Marte em poucos anos, Niemeyer seria escolhido para desenhar o projeto. Tudo ele!


Mais para lá da praça, o fim do eixo monumental de Brasília converge num espaço interessante. Depois do congresso Nacional, o representante máximo do poder legislativo do país, numa ponta da praça repousa o Palácio do Planalto, singelo até, perto da suntuosidade do Congresso, onde se encontra o presidente do país. Apenas 4 dos andares podem ser vistos da praça. Os demais ficam submersos e dispostos nos chamados anexos.





 Na ponta oposta do Palácio, está o Supremo Tribunal Federal, o ente máximo do poder judiciário em território nacional.


Parecido com o Palácio, em termos de proporções, fica no cantinho com a estatua da justiça a sua frente, testemunha ocular de tantas emoções, acredito eu. Se bem, de olhos vendados, deve ser mais intuitiva do que ocular!


 Um pequeno aspas: não sei se o Lucio e o Niermeyer se ligavam nesse lance de energia. Cogita-se na net, muito discretamente que Lucio Costa era espiritualista e acreditava ser reencarnação de um Rei egípcio que adorava o deus Sol. Nada oficial, mas duvidar não duvido. Nessa tal civilização, certeza que os caras flutuavam e não precisavam de carros nem calçadas. Bingo! Ta explicado!


Com mentes mais evoluídas deviam setorizar as emoções, a razão e tudo mais, como no filme K-Pax onde o alienígena se encanta com o nosso modelo carente de civilização com núcleo familiar. Será Lucio um oriundo de K-Pax?


Bom, voltando aos três poderes, essa praça tem um clima diferente. Uma acústica e uma brisa interessantes.


Além dos três prédios principais, mais algumas coisas interessantes entre as quais vou citar Os candangos e o Museu Histórico de Brasília.


Os candangos são incrivelmente feios e diferentes de toda referência a nordestinos antes vista. Digo feios porque primeiro parecem dois alienígenas e não humanóides. (Lá vem os caras com essa mania de marciano.)





A escultura é uma homenagem aos candangos, ou seja, a massa nordestina que veio transformar essa loucura em realidade em apenas três anos. Um novo amigo, que conheci aqui num evento, me disse que na seu curso de geografia, explicaram que realmente a idéia era de que os candangos voltassem a terra de origem depois da inauguração de Brasília. Aqui no entorno tem um local chamado de Ceilândia onde os recursos são precariamente investidos e no noticiário é possível perceber que falta tudo por lá. Segundo o meu amigo estudante, isso é parte de um projeto, batizado de CEM:Comissão de expulsão – estermínio- de migrantes. Duvida?


Ok. Então tenta explicar essa imagem aí de cima. Dois “homens” de mãos dadas, com a cabeça pequena e apenas um olho. Um olha para o outro de forma insegura. São reconhecidos apenas se estiverem no coletivo. Sua força está na massa quantitativa. Nas mãos carregam uma ferramenta e suas pernas são muito longas. Sua força física é o que conta. Pouca cabeça e apenas um olho! Enquanto, na mesma praça uma escultura de cabeça do Juscelino fica de forma até meio bizarra colada no Museu Hsitórico de Brasília. Parece um halloween cívico!



Para ele, apenas uma cabeça já basta e para os nordestinos, dois metros de perna, um olho furado e uma cabeça de ervilha. Que feio em gente? Em plena praça dos três poderes.

Mas é aqui, no final de todo o eixo e também da Praça que tudo acontece.

Ela está lá, magestosa, a espera de acontecer como nação.


Uma cena me deixou chocada ao contrário. Depois de tanta acidez, um golpe de vista e meu coração "se enxeu" (é claro, senão eu morreria).


Não sei se é assim todos os dias, ou a brisa daquela tarde nos privilegiou assim como quem pisa no pico da montanha gelada e as nuvens se dissipam por míseros e inesquecíveis segundos.


A bandeira mais alta do mundo (diz no Guines), é com certeza a mais bela.




Não sei se era o tempo do vento naquele dia, que fazia ela dançar pra nós de um jeito que não era lento, mas era calmo, e a medida que me aproximei, ela se abriu por completo, como se lesse em mim aquela pasmada adoração por aquele símbolo que eu sempre amei tão fortemente no fundo do peito.


Cem metros de altura, 24 mastros que representavam os estados na época. Hoje são 28. Sua cor de ferrugem, um marrom terra contrastando com os 286 m² de flâmula verde e amarela, e aquele balançar calmo e firme. Era uma oração. Fomos pegos, eu e o Xandão sob o balançar de nossa mãe pátria, ali, diante daquelas contradições todas.


Ali, com o azul de fundo eu respirei, não com alívio, nem com tristeza, mas com a certeza de que há algo maior e mais grandioso para tudo isso.


O ferrugem talvez escureça muito mais antes de nos tornarmos uma pátria de nacionais, para todos, para muitos, mas ela está ali, forte, onipresente e vendo tudo de cima. Como uma enviada de Algo Maior e a espera da hora certa de acontecer.


Uma vez por mês a bandeira é trocada, numa pequena cerimônia. Mas é ali, no alto, guardando por todos, que aquela imagem pode reascender a chama do coração mais apático.


Só não vê quem não quer. Só não sente quem já morreu ou se deixou morrer.


Me apaixonei por aquele momento e vou guardá-lo mesmo que lá eu volte mais de cem vezes.


Brasília do futuro? Não sei como será? Não acho que hoje ela represente coisa alguma do nosso país, sendo ou não uma maravilha arquitetônica do mundo. Ela representa talvez a parte que tenhamos que esquecer e apagar na nossa cultura. Uma parte de desigualdades, burocrática, repleta de ostentação e separação, enfraquecedora e individual. Elitista.


Mas, mais forte que tudo isso, muito maior que todos esses quilos de concreto vazio e ideologias ímpares é o fato de existirmos enquanto nação de verdade. Fruto de uma história que se fez tijolo a tijolo, estado a estado. Criada com naturalidade, fruto de nossos acertos e erros. Conseqüência dos agregamentos humanos. Nem sei se sabemos disso ao certo, mas é fato. O Brasil é de todos. Basta que todos o queiram para si.


Brasília, não sei quem és, mas eu sei quem sou e de onde vim.


E o Brasil invadiu a inviolável Brasília e trouxe as contradições, as inclusões, os agregados, os puxadinhos, a pobreza. Trouxe a força de trabalho e de vida para o miolo inventado e insustentável.


Como nação, ainda somos uma parcela de alienados que aguardam e outra de pseudo conscientes que acham que o são. E ainda há uma outra que tenta separar quem deve ser alienado e quem será o intocável.


O país está refém do que se faz aqui sim, mas só por um tempo, letárgico, mas passageiro.


Já diz o provérbio: não há mal que dure para sempre e nem felicidade que nunca se acabe. Então, resistiremos, como a bandeira, a espera do momento de acontecer.

















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